Desde a madrugada deste sábado (30), circula nas redes sociais um dos boatos mais perigosos dos últimos tempos: a suposta morte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A informação, como já foi confirmado por imagens e comunicados oficiais, é falsa. Mas o que impressiona não é apenas a mentira — é a velocidade com que ela ganhou o mundo.
Publicações no X (antigo Twitter) e em grupos de mensagens diziam que Trump teria morrido. O “argumento” dos boatos se sustentava em três pontos frágeis: a ausência de compromissos oficiais em sua agenda, o silêncio do presidente desde terça-feira e uma foto que mostrava um hematoma em sua mão. Bastou isso para alimentar teorias e viralizar globalmente.
Para apimentar ainda mais, a bandeira dos Estados Unidos foi hasteada a meio-mastro na Casa Branca. Rapidamente, usuários afirmaram que se tratava de sinal de luto presidencial. Nada mais enganoso: o ato foi uma determinação de Trump após o ataque em uma igreja em Minneapolis, que matou duas crianças e feriu outras 17 pessoas.
No fim das contas, uma simples determinação oficial foi usada como combustível para a especulação. A foto mais compartilhada como “prova” foi desmentida na manhã de hoje pela Agência France-Presse (AFP), que registrou Trump deixando a Casa Branca ao lado da neta Kai, a caminho do campo de golfe. Ou seja, o presidente estava vivo, visível e ativo.
A explicação para o hematoma também veio do próprio time de comunicação: irritação na pele causada pelo uso de aspirina, medicamento comum em tratamentos cardiovasculares. Em julho, Trump foi diagnosticado com insuficiência venosa crônica, condição comum em idosos, que pode causar inchaço e manchas. Fato médico, não mistério.
Mas o episódio escancara um problema maior. Se até a morte de um presidente norte-americano pode ser inventada, compartilhada e defendida por milhares em questão de horas, o que isso diz sobre a nossa era digital? As fake news já não são apenas ruído: tornaram-se ferramenta de manipulação, capaz de influenciar mercados, gerar pânico e até tensionar relações internacionais.
O caso de Trump mostra como a desinformação se alimenta de contextos frágeis — uma agenda vazia, uma foto mal interpretada, um símbolo deslocado do seu verdadeiro sentido. E, a partir daí, constrói uma narrativa sedutora para quem já desconfia do sistema ou busca confirmar suas crenças.
Há também um componente político: Trump, aos 79 anos, enfrenta questionamentos sobre saúde e idade. Não é de hoje que rumores circulam sobre sua condição física, e cada detalhe vira combustível para ataques ou teorias conspiratórias. Mas transformar suposições em “notícia” é ultrapassar todos os limites.
É verdade: a morte de um presidente seria um terremoto político e econômico de escala mundial. Talvez seja por isso que essa fake news tenha ganhado tanta força — porque toca no nervo da instabilidade global. E é exatamente esse o perigo: quando a mentira se veste de plausibilidade, milhões acreditam antes mesmo de questionar.
Mais do que desmentir um boato, esse caso serve como alerta. A velocidade das redes sociais ultrapassou a capacidade de checagem. E, se não aprendermos a duvidar antes de compartilhar, corremos o risco de transformar qualquer especulação em “verdade instantânea” — com consequências imprevisíveis.
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