Um segundo turno histórico

A Bolívia vai às urnas neste domingo (20) para um segundo turno presidencial inédito em sua história democrática. O país, que há duas décadas é governado por partidos de esquerda, enfrenta uma virada política marcada pela crise econômica mais severa dos últimos 40 anos e pelo esgotamento de seu modelo econômico.

Disputam o pleito o ex-presidente Jorge Quiroga, representante da direita liberal, e o senador Rodrigo Paz, de centro-direita — dois nomes que propõem rumos opostos, mas com um mesmo objetivo: reconstruir um país mergulhado em dificuldades fiscais e sociais.

Clima de incerteza e expectativa

Bolivianos vão às urnas em um segundo turno histórico que pode encerrar duas décadas de governos de esquerda no país.

Bolivianos vão às urnas em um segundo turno histórico que pode encerrar duas décadas de governos de esquerda no país.

Na véspera da eleição, as ruas das principais cidades bolivianas foram tomadas por dúvidas e ansiedade.
As pessoas precisam prestar mais atenção nos planos de governo antes de votar”, afirmou o açougueiro Marcos Carrasco, em entrevista ao canal Jovem Pan, refletindo o sentimento de parte da população.

Já a funcionária pública Marol Siler expressou esperança: “Que o próximo presidente se envolva com as questões reais da população e traga mudanças”.

Um país em crise

A Bolívia, com 11 milhões de habitantes, enfrenta uma inflação anual de 23%, agravada pela escassez de combustível e de dólares. O país praticamente esgotou suas reservas internacionais, resultado de uma política de subsídios e controle estatal dos preços, mantida por sucessivos governos de esquerda desde o início dos anos 2000.

A crise corroeu a base de apoio popular que sustentou líderes como Evo Morales, e agora abre espaço para um debate inédito sobre o futuro econômico do país.

As propostas dos candidatos

Jorge Quiroga, que foi presidente por 12 meses após a renúncia de Hugo Banzer, promete abrir a economia boliviana ao mundo e atrair investimentos estrangeiros.

“Vocês não precisam insultar os gringos, europeus ou chineses. Precisamos vender a eles, gerar empregos e criar um futuro”, afirmou Quiroga em discurso recente.

Ele se define como um liberal reformista, que busca romper definitivamente com o ciclo socialista.

Rodrigo Paz, senador e ex-prefeito, adota um discurso mais pragmático. Evita rótulos ideológicos e propõe o que chama de “capitalismo para todos”, redistribuindo metade do orçamento público entre os nove departamentos bolivianos.

“As pessoas querem capital. Precisamos de um modelo que permita abrir empresas, comprar um carro, ter saúde e educação”, disse Paz, cuja família tem longa trajetória política — ele é filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora.

Um novo rumo para a Bolívia

Independentemente do resultado, o segundo turno deste domingo marca o fim de uma era política. Após 20 anos de hegemonia da esquerda, o país enfrenta uma encruzilhada entre o liberalismo econômico de Quiroga e o modelo descentralizador e social de Paz.

Analistas apontam que, além da economia, o novo governo terá de lidar com pressões regionais, desafios ambientais e a reconstrução institucional de um país que tenta reencontrar seu rumo.

A Bolívia, historicamente dividida entre o altiplano andino e as regiões ricas em gás e petróleo, decide agora o caminho que seguirá nas próximas décadas — e o mundo acompanha atento.