• Braide recorre ao STF e pede nova análise sobre constitucionalidade de lei remuneratória

    Prefeito Eduardo Braide aciona o STF para reavaliar a lei que reajusta seu salário e altera o teto do serviço público municipal.
    Prefeito Eduardo Braide aciona o STF para reavaliar a lei que reajusta seu salário e altera o teto do serviço público municipal.

    A Prefeitura de São Luís ingressou com um recurso extraordinário no Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA) pedindo que o Supremo Tribunal Federal (STF) reavalie a constitucionalidade da lei municipal que reajustou o salário do prefeito Eduardo Braide (PSD) de R$ 25 mil para R$ 38 mil e alterou o teto remuneratório do funcionalismo municipal.

    O objetivo é reverter uma decisão do TJMA que considerou válida a norma, aprovada pela Câmara Municipal em meio a um impasse jurídico envolvendo salários de auditores fiscais, controladores e outras carreiras de alta remuneração da administração municipal.

    Segundo a Procuradoria-Geral do Município (PGM), o texto aprovado pelos vereadores apresenta vícios formais e materiais — desde falhas no processo legislativo até impacto financeiro considerado desproporcional.

    Município alega inconstitucionalidade formal e material

    A PGM afirma que a lei viola princípios constitucionais e infringe regras essenciais do processo legislativo. O Município aponta três vícios principais:

    1 — Violação da anterioridade da legislatura

    A Constituição determina que remunerações de agentes políticos só podem valer para a legislatura seguinte.
    Embora a votação tenha ocorrido em 2024, a lei foi promulgada apenas em 26 de março de 2025, já na legislatura atual.

    O governo municipal sustenta que a fixação só se completa com a publicação, e por isso o reajuste violaria o princípio da previsibilidade.

    2 — Ausência de estudo prévio de impacto financeiro

    A Prefeitura afirma que o estudo de impacto orçamentário apresentado pela Câmara foi assinado sete minutos antes do envio do autógrafo ao Executivo, indicando que a análise financeira não teria sido apreciada pelos parlamentares durante a votação.

    A PGM cita o artigo 113 do ADCT, que exige estudo prévio robusto para aprovação de normas com impacto fiscal.

    3 — Uso inadequado do instrumento legislativo

    A norma foi apresentada como “emenda” à Lei nº 7.701/2024, já aprovada e vigente.
    Segundo a Prefeitura, uma emenda só pode alterar projetos em tramitação, não leis já sancionadas, configurando vício formal insanável.

    Além das irregularidades formais, o Município também aponta desproporcionalidade no valor do subsídio.

    Salário de São Luís se aproxima ao de São Paulo, diz PGM

    Em sua argumentação, a Prefeitura destaca que o subsídio de R$ 38 mil é apenas R$ 39 menor que o salário do prefeito de São Paulo, maior capital do país, o que seria incompatível com:

    • porte populacional de São Luís,
    • capacidade financeira do município,
    • nível de arrecadação local.

    A PGM afirma que o reajuste provoca efeito cascata, elevando automaticamente o teto constitucional municipal e, consequentemente, o limite salarial de diversas carreiras.

    De acordo com o recurso, o impacto estimado seria de R$ 28,8 milhões ao ano, podendo comprometer políticas públicas de áreas essenciais.

    Decisão do TJMA que motivou o recurso

    O TJMA decidiu que:

    • o ato de fixar subsídios ocorre no momento da votação, e não da publicação;
    • não houve desproporcionalidade evidente no reajuste;
    • o valor é inferior ao subteto anterior de R$ 41.845,49.

    Caso o STF mantenha a constitucionalidade da lei, a Prefeitura pede que sua aplicação seja apenas prospectiva, para evitar pagamento retroativo.

    Entenda a origem do impasse

    O conflito salarial começou em novembro de 2024, quando o TJ-MA declarou inconstitucional uma emenda da Lei Orgânica que vinculava o teto municipal ao salário de desembargadores. A decisão reduziu vencimentos de várias categorias, que chegaram a perder cerca de R$ 12,5 mil mensais.

    Auditores, controladores e outras carreiras passaram a judicializar os cortes. Vereadores de oposição promulgaram a Lei nº 7.729/2025, elevando o salário do prefeito e redefinindo o teto municipal.

    O prefeito Braide acionou a Justiça para impedir o reajuste, alegando irregularidades e risco financeiro ao município.

    STF: Flávio Dino mantém validade da lei do teto

    Em agosto, o ministro Flávio Dino rejeitou uma reclamação do Ipam e afirmou que a Lei nº 7.729/2025 permanece válida e vigente, devendo ser aplicada até decisão contrária.

    Segundo Dino, não há relação entre o caso de São Luís e decisões do ministro André Mendonça sobre revisão geral anual, afastando o argumento do Município.

    O entendimento favorece auditores e controladores, que cobram recomposição salarial.

    Câmara recebe pedido de cassação contra Braide

    O ambiente político se agravou após a apresentação de um pedido de cassação do mandato do prefeito, protocolado pelo auditor aposentado Carlos Alberto Machado e apoiado por cerca de 400 servidores.

    A denúncia acusa Braide de:

    • descumprir a Lei nº 7.729/2025;
    • aplicar corte salarial seletivo;
    • causar prejuízo financeiro a servidores e aposentados;
    • cometer infração político-administrativa.

    A representação está na CCJ e na Comissão de Orçamento.

    Braide classificou o pedido como politicamente motivado.

    Câmara Municipal se manifesta

    A Câmara confirmou o recebimento da denúncia e destacou que seguirá o rito do Decreto-Lei 201/67, garantindo contraditório, ampla defesa e transparência.

    Servidores alegam que o prefeito descumpriu a lei remuneratória e manteve cortes considerados ilegais desde novembro de 2024.

    O recurso ao STF abre um novo capítulo na disputa jurídica e política que envolve:

    • reajuste do prefeito,
    • teto do funcionalismo,
    • perdas salariais,
    • validade da Lei nº 7.729/2025,
    • e estabilidade fiscal do município.

    A decisão do Supremo poderá redefinir a remuneração de centenas de servidores e influenciar diretamente o debate político de 2025 em São Luís.

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