
A Polícia Federal afirma que o ex-ministro do Trabalho e Previdência do governo Jair Bolsonaro (PL), Ahmed Mohamad Oliveira — anteriormente chamado José Carlos Oliveira — era um dos pilares institucionais do esquema que fraudou descontos em aposentadorias e pensões do INSS por meio da Conafer. A investigação aponta que, tanto como diretor de Benefícios do instituto quanto como ministro, ele autorizou repasses irregulares, desbloqueou valores vultosos sem comprovação legal e recebeu vantagens indevidas em troca.
O caso veio à tona durante a quarta fase da operação que apura desvios bilionários em benefícios previdenciários. Além de Ahmed, a PF prendeu mais oito pessoas, incluindo o ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, acusado de receber até R$ 250 mil por mês em propinas.
Pagamentos, alcunhas e desbloqueios ilegais
Durante as buscas, os investigadores apreenderam uma planilha datada de fevereiro de 2023 que registra o pagamento de R$ 100 mil para “São Paulo Yasser”. Segundo a PF, esse era um dos codinomes usados para se referir a Ahmed. Mensagens de WhatsApp de agradecimento ao empresário Cícero Marcelonoi, também investigado, reforçam a tese de pagamentos periódicos ao ex-ministro.
A investigação mostra que Ahmed, quando ocupava o cargo de diretor de Benefícios do INSS, autorizou o desbloqueio e o repasse de R$ 15,3 milhões à Conafer, mesmo sem exigir documentos obrigatórios que comprovassem as filiações dos supostos associados. Essa decisão teria permitido a retomada e a ampliação do esquema ilegal, incluindo indevidamente mais de 650 mil benefícios previdenciários.
Stefanutto recebia até R$ 250 mil por mês, diz PF
O ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, também é apontado como peça estratégica da organização criminosa. Segundo documentos enviados ao Supremo Tribunal Federal (STF), ele recebia propinas mensais de até R$ 250 mil para manter ativa a engrenagem do esquema iniciado em 2017 com um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) firmado com o INSS.
Planilhas apreendidas, mensagens interceptadas e ordens de repasse sem comprovação de filiação reforçam o envolvimento direto de Stefanutto. Os pagamentos, segundo a PF, eram feitos por meio de empresas de fachada e até por uma pizzaria que funcionava como “fachada financeira”.
Desvios chegam a R$ 6,3 bilhões, segundo a PF
O prejuízo total é vasto. Apenas via Conafer, a PF estima desvios de R$ 640 milhões entre 2017 e 2023. Considerando outras entidades que também participavam da fraude, o rombo pode alcançar R$ 6,3 bilhões no período de 2019 a 2024.
O esquema envolvia falsificação de fichas de filiação, uso indevido de assinaturas de aposentados, inserção fraudulenta de dados nos sistemas do INSS e distribuição dos valores por meio de uma rede de empresas fantasmas e intermediários financeiros. Em vários casos, aposentados eram abordados para cancelar autorizações, mas suas assinaturas eram reutilizadas como permissão para novos descontos — prática já revelada em reportagens anteriores.
Prisões e envolvidos na 4ª fase da operação
A PF cumpriu mandados contra ex-dirigentes, empresários e operadores ligados ao esquema. Foram presos:
- Alessandro Stefanutto, ex-presidente do INSS
- Antônio Carlos Antunes Camilo, o “Careca do INSS”
- André Paulo Felix Fidelis, ex-diretor de Benefícios do INSS
- Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, ex-procurador-geral do INSS
- Thaisa Hoffmann, empresária e esposa de Virgílio
- Vinícius Ramos da Cruz, presidente do Instituto Terra e Trabalho (ITT)
- Tiago Abraão Ferreira Lopes, diretor da Conafer
- Cícero Marcelino de Souza Santos, empresário ligado à Conafer
- Samuel Chrisostomo do Bonfim Júnior, ligado à Conafer
A investigação segue em curso para identificar novos beneficiários e operadores que tenham atuado na estrutura criminosa.
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