
A relação entre medicações para obesidade e possíveis impactos na saúde ocular tem recebido cada vez mais atenção da comunidade médica. Uma das vozes que vem se destacando nesse debate é a da oftalmologista Dra. Acácia Jordão, que trouxe ao programa Mais Saúde, apresentado pelo jornalista Ismael Gama, na TV Assembleia, uma discussão urgente sobre o uso crescente dos análogos de GLP-1, como a tirzepatida, e os efeitos que essas substâncias podem provocar na visão.
Com mais de 35 anos de experiência em oftalmologia e mais de uma década dedicada à abordagem integrativa, a especialista reforça que nenhum paciente deve ser visto de maneira fragmentada. “A medicina precisa voltar a enxergar o ser humano como um sistema completo, onde corpo físico, emoções e ambiente interagem diretamente com a saúde”, afirma.
Veja também: Dra. Acácia Jordão destaca relação entre obesidade e saúde ocular no Obesity Week Brasil 2025
Segundo ela, essa visão integrativa é determinante para compreender por que doenças sistêmicas como obesidade, inflamação crônica, diabetes e hipertensão podem interferir diretamente no funcionamento da retina — o tecido metabolicamente mais ativo do corpo humano. Alterações metabólicas e hemodinâmicas podem desencadear processos que evoluem para quadros graves, inclusive perda visual permanente.
Abordagem integrativa: o paciente além dos olhos
A Dra. Acácia destaca que a oftalmologia moderna não pode mais se limitar à prescrição de óculos ou avaliação isolada do globo ocular. “Muitas vezes, para tratar o olho, eu preciso tratar o intestino, compreender a rotina alimentar, o nível de inflamação e até a qualidade do sono. O paciente chega com queixa ocular, mas o problema nasceu em outro lugar”, explica.
Essa abordagem tem ganhado espaço entre especialistas de diversas áreas, especialmente em congressos multidisciplinares. Recentemente, a médica participou de um evento nacional sobre obesidade promovido pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Medicina da Obesidade, onde apresentou aos colegas a importância da participação do oftalmologista no acompanhamento desses pacientes.
Remédios para emagrecer: riscos pouco divulgados
As medicações para obesidade representam um avanço importante no tratamento da doença, evitando, em muitos casos, procedimentos de alto risco como a cirurgia bariátrica. No entanto, a especialista alerta que, embora eficazes, esses medicamentos não são isentos de efeitos colaterais.
Um dos pontos mais preocupantes é a possibilidade de desencadear complicações oculares graves em pacientes predispostos. Isso ocorre principalmente quando há:
- Queda abrupta da glicemia
- Alterações rápidas de peso
- Variações bruscas da pressão arterial
- Inflamação sistêmica pré-existente
- Diagnósticos prévios como retinopatia diabética
Em indivíduos com retinopatia já instalada, o uso dessas medicações pode exacerbar o quadro. Já em pacientes com determinadas alterações congênitas, como nervo óptico crowded (popularmente confundido com papiledema), o risco é o desenvolvimento de neuropatia óptica isquêmica não arterítica, uma condição associada à perda visual súbita e, muitas vezes, irreversível.
“Quem vai diferenciar uma baixa de visão transitória — consequência da oscilação glicêmica — de um primeiro sinal de doença grave? Apenas o oftalmologista”, reforça a médica.
Obesidade e inflamação: por que os olhos sofrem tanto?
O paciente obeso é considerado, do ponto de vista metabólico, um paciente inflamado. As células adiposas liberam mediadores inflamatórios que impactam todo o organismo. No olho, o primeiro tecido afetado tende a ser a retina, devido à sua alta demanda energética e vascularização intensa.
Por isso, muitas vezes, o exame de fundo de olho pode identificar alterações anos antes do diagnóstico formal de doenças como diabetes, hipertensão e até tumores cerebrais.
“É possível detectar um diabetes até cinco anos antes do surgimento dos sintomas. A retina é um preditor precoce”, explica a especialista.
Estilo de vida: parte essencial do tratamento
Durante o congresso, médicos de diferentes especialidades apresentaram resultados expressivos no tratamento da obesidade. Contudo, todos reforçaram que nenhum medicamento substitui a tríade fundamental:
- alimentação adequada
- prática regular de atividade física
- qualidade do sono e bem-estar emocional
Para Dra. Acácia, a medicina integrativa entra justamente como elo entre esses fatores, entendendo que corpo, mente e relações sociais moldam diretamente a saúde — inclusive a saúde ocular.
Avaliação oftalmológica: um passo obrigatório antes da medicação
A médica defende um protocolo preventivo para qualquer paciente que deseje iniciar medicação para obesidade: consultar um oftalmologista antes. Isso evitaria, segundo ela, riscos silenciosos, pouco debatidos e potencialmente devastadores para a visão.
“Meu alerta é para médicos prescriptores, colegas oftalmologistas e pacientes. Antes de começar o tratamento, é necessário investigar fatores de risco que podem levar à perda visual. Não é apenas sobre emagrecer; é sobre preservar a saúde integral”, afirma.
Um alerta necessário para todos
O avanço dos tratamentos contra obesidade representa uma conquista importante na medicina. Contudo, segundo a Dra. Acácia Jordão, esse progresso exige responsabilidade e acompanhamento multiprofissional. A visão é uma das primeiras áreas do corpo a sinalizar desequilíbrios, e ignorar esses sinais pode custar caro.
Mais do que uma entrevista, seu alerta funciona como um convite à prevenção, à integração entre especialidades e ao cuidado consciente.
Compartilhe isso:
- Clique para compartilhar no Facebook(abre em nova janela) Facebook
- Clique para compartilhar no Telegram(abre em nova janela) Telegram
- Clique para enviar um link por e-mail para um amigo(abre em nova janela) E-mail
- Clique para compartilhar no WhatsApp(abre em nova janela) WhatsApp
- Clique para imprimir(abre em nova janela) Imprimir
- Clique para compartilhar no X(abre em nova janela) 18+
