
A recente cirurgia abdominal realizada no ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reacendeu discussões sobre o atentado a faca sofrido por ele em 6 de setembro de 2018, durante a campanha presidencial. Seis anos se passaram e, apesar das investigações da Polícia Federal (PF), muitas dúvidas persistem sobre o caso que marcou a história política recente do Brasil.
Logo após o ataque em Juiz de Fora (MG), o autor, Adélio Bispo de Oliveira, foi preso em flagrante. Natural de Minas Gerais e com 40 anos na época, ele foi enquadrado por crime de motivação política, conforme a antiga Lei de Segurança Nacional. A pena prevista varia de três a trinta anos, dependendo da gravidade da lesão.
A primeira investigação da PF durou apenas 22 dias. Nesse período, foram analisados celulares, notebooks, documentos, contas bancárias e ouvidas mais de 70 pessoas entre testemunhas e envolvidos. O resultado apontou que Adélio teria agido sozinho, com motivação política clara.
Diante da pressão pública, um segundo inquérito foi aberto para apurar se houve participação de terceiros ou financiamento por parte de outras pessoas ou grupos. Apesar da análise de mensagens, e-mails e dados bancários, a PF concluiu, em 2020, que Adélio agiu sem mandantes ou cúmplices.
Mesmo assim, Bolsonaro sempre questionou essa versão, destacando o uso de vários celulares por Adélio e o fato de ele ter sido defendido, inicialmente, por quatro advogados — dois deles já envolvidos em casos de grande repercussão, como o do goleiro Bruno. A defesa chegou a contar com até 17 advogados, mas atualmente ele é representado pela Defensoria Pública da União.
A estratégia inicial da defesa foi alegar insanidade mental. Após idas e vindas judiciais, uma perícia foi autorizada e confirmou que Adélio sofre de Transtorno Delirante Persistente, sendo considerado inimputável. Isso significa que, mesmo se condenado, ele não poderia cumprir pena em regime prisional comum, mas sim em um hospital de custódia. No entanto, Adélio permanece, até hoje, na Penitenciária Federal de Campo Grande (MS), sob segurança máxima.
Em 2019, novas investigações da PF buscaram esclarecer quem financiou a equipe de defesa de Adélio. Um grupo de mensagens no aplicativo WeChat, intitulado “Adélio PCC”, chegou a ser analisado. Mais tarde, em 2024, a PF concluiu que, embora um dos advogados de Adélio tenha tido contato com membros do PCC, não houve qualquer envolvimento da facção criminosa no atentado.
Procurada, a Polícia Federal não se manifestou sobre atualizações recentes. Também não houve retorno por parte da administração penitenciária de Mato Grosso do Sul, nem dos advogados de Bolsonaro ou da defesa de Adélio.
Apesar das conclusões oficiais, o caso ainda levanta muitas perguntas que seguem sem resposta, especialmente em um país onde a desconfiança em relação a instituições e processos judiciais é cada vez mais presente.