
Flávio Dino e Jorge Messias em sessão do STF; Palácio do Planalto articula sucessão na AGU sob pressão por mais mulheres no topo do Judiciário.
O Planalto acendeu o sinal amarelo: se Jorge Messias, atual advogado-geral da União, avançar para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF), o governo quer uma mulher no comando da AGU. A movimentação atende à cobrança pública por representatividade feminina no topo do sistema de Justiça — e funciona, politicamente, como uma “compensação” caso Lula indique mais um homem à Suprema Corte, hoje com apenas uma ministra em exercício (Cármen Lúcia). A possibilidade foi ventilada por veículos nacionais e locais nesta semana, reforçando que o tema entrou no centro das conversas de governo.
Os nomes no tabuleiro (e por que eles importam)
Nos bastidores, quatro mulheres despontam com força, todas de perfil técnico e “prata da casa”:
- Isadora Cartaxo — secretária-geral de Contencioso, coordena a atuação da AGU no STF e tem trânsito direto com gabinetes da Corte. Perfil visto como “operacional” e de baixa fricção política.
- Clarice Calixto — procuradora-geral da União (PGU). Experiência em ministérios estratégicos e bom relacionamento com a cúpula do governo; aparece como nome de consenso interno.
- Anelize Almeida — procuradora-geral da Fazenda Nacional (PGFN). Agrada à equipe econômica e tem aval tácito de interlocutores de Fernando Haddad para pautas sensíveis de dívida ativa e contencioso tributário.
- Adriana Venturini — procuradora-geral Federal (PGF). É lembrada pela capacidade de gestão em massa de litígios e pela governança das autarquias.
Entre os homens, o nome mais citado é Flávio (Fábio) Roman, atual substituto de Messias e procurador ligado ao Banco Central, que representaria continuidade imediata da máquina. Ainda assim, a leitura predominante no Planalto é abrir espaço a uma mulher caso Messias mude de cadeira.
Por que a escolha da AGU conversa com o STF
Há uma camada simbólica e outra pragmática. Simbolicamente, o governo tenta responder à crítica recorrente: em 134 anos, o STF teve só três ministras e nenhuma mulher negra — Ellen Gracie, Cármen Lúcia e Rosa Weber. A cada nova vacância, cresce a pressão para que Lula corrija a assimetria.
Pragmaticamente, escolher a (o) chefe da AGU altera o eixo de gravidade de decisões sensíveis: a AGU defende a União em ações de alto impacto fiscal, regulações económicas e políticas públicas (da nova âncora fiscal ao contencioso tributário bilionário). Uma liderança com capital técnico no STF e interlocução com Economia e Casa Civil reduz atrito institucional e dá previsibilidade a temas que batem no Plenário com regularidade. É aí que perfis como Isadora (STF) e Anelize (Economia) ganham tração simultânea.
A “solução compensatória”: ganhos e riscos
- Ganho político: ao colocar uma mulher na AGU, Lula mitiga o desgaste com movimentos sociais e parte da base aliada se, no STF, o escolhido for um homem. A ideia — ecoada por analistas — é ampliar diversidade no primeiro escalão (chegaria a 11 mulheres) enquanto se “compraria tempo” no debate da vaga da Corte.
- Ganho institucional: uma AGU com expertise em STF acelera defesas estratégicas (transparência orçamentária, compliance de emendas, litigância climática, saúde, regulação digital).
- Risco: se a indicação for lida como gesto meramente simbólico, sem agenda pública concreta (dados abertos, metas, governança da litigância), a narrativa reverte e o governo perde pontos com o mesmo público que pretende contemplar.
Como cada perfil se conecta à agenda do governo
- Isadora Cartaxo: “ponte quente” com STF. Agrega segurança jurídica em teses estruturantes e sinaliza respeito à carreira. Útil num cenário de judicialização de políticas e acordos de cumprimento.
- Clarice Calixto: trajetória transversal (Justiça/Cultura) e bom relacionamento político — atributo valioso para negociar com ministérios e o Congresso em pautas contenciosas.
- Anelize Almeida: trava de controle fiscal; reforça a imagem de responsabilidade orçamentária no contencioso tributário, agrada o mercado e a Fazenda.
- Adriana Venturini: capacidade de gestão do contencioso de massa (INSS/Anvisa/Ibama etc.), algo que melhora a prestação de serviços e derruba estoque de ações repetitivas.
- Flávio/Fábio Roman: continuidade e velocidade na transição. Se Lula priorizar risco zero na máquina, Roman é o “short-list” óbvio — mas não entrega o sinal político de diversidade.
O timing e o roteiro da decisão
A imprensa especializada e portais regionais apontam que a hipótese de Messias no STF ganhou musculatura; em paralelo, o governo já testa nomes para a AGU — com quatro mulheres na dianteira — enquanto monitora custos e benefícios da mensagem pública. O noticiário desta semana cravou o debate vivo no Planalto, com detalhamento dos perfis e da estratégia de “compensação” de representação.
O que observar agora
- Sinal oficial: agendas da Presidência e articulação no Senado — qualquer fotografia conjunta ou audiência fora do roteiro pode indicar o rumo.
- Narrativa pública: se Lula vincular a escolha da AGU a metas de transparência e dados abertos (ex.: painel unificado de litígios e custos), o gesto deixa de ser só simbólico.
- Fazenda & STF: se a economia emplacar sua preferida, espere foco em contencioso fiscal; se prevalecer o eixo STF, a ênfase será estratégia de precedentes e gestão de teses.
Linha de fundo
A sucessão na AGU é mais do que preencher uma cadeira: é definir a chave de leitura do governo para os próximos embates no Judiciário e no Orçamento. Se Messias subir ao STF e uma mulher assumir a AGU, Lula entrega um gesto político relevante — a questão é empacotar o gesto com entregas institucionais medíveis. Sem isso, a oportunidade de virar o jogo da representatividade pode se perder no ruído.