O governo federal prepara o lançamento do programa Redata, previsto para setembro, com o objetivo de transformar o Brasil em um polo global de tecnologia sustentável. A medida provisória que dará base ao programa trará isenções fiscais generosas para empresas interessadas em instalar data centers movidos 100% por energia renovável no país, criando um novo ambiente de atração de investimentos internacionais e fortalecendo a infraestrutura digital brasileira.
Segundo fontes do Ministério da Fazenda, o Redata deve reduzir a carga tributária do setor de 52% para cerca de 18%, isentando tributos federais como PIS, Cofins, IPI e Imposto de Importação. O alívio fiscal pretende abrir caminho para a entrada de gigantes globais de tecnologia, que atualmente buscam alternativas sustentáveis em meio às restrições impostas a data centers em outras partes do mundo, como nos Estados Unidos e na Europa, onde a demanda energética se tornou um obstáculo.
A proposta não se limita apenas à redução de custos. Para usufruir dos benefícios, as empresas terão de cumprir exigências ambientais e sociais, como uso exclusivo de energia limpa, sistemas de resfriamento eficientes e destinação de parte da capacidade computacional ao mercado interno. O plano inclui ainda a obrigatoriedade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, fortalecendo a cadeia local de inovação.
Estima-se que o programa possa atrair até R$ 2 trilhões em investimentos ao longo da próxima década, impulsionando setores estratégicos como construção civil, telecomunicações e inteligência artificial. Para especialistas, o impacto será semelhante ao que a indústria automobilística representou para o Brasil no século XX, mas desta vez em um modelo voltado à economia verde e digital.
Representantes da Associação Brasileira de Data Centers (ABDC) e de grandes operadoras do setor, como Ascenty e Elea, já manifestaram apoio à medida, mas cobram agilidade. Segundo eles, projetos bilionários não podem esperar indefinidamente pela aprovação legislativa, sob risco de migrarem para outros países da América Latina.
Apesar do entusiasmo, alguns analistas alertam para desafios técnicos. A exigência de energia “nova e renovável” pode se tornar um gargalo caso não haja clareza regulatória, já que a matriz elétrica mundial ainda depende de fontes firmes como gás e nuclear para manter a estabilidade do sistema.
Mesmo assim, os sinais do mercado são positivos. Grandes players já estudam investimentos no Brasil à espera do Redata. Um dos exemplos mais comentados é a parceria entre a geradora Casa dos Ventos e a ByteDance, controladora do TikTok, para erguer um mega data center no porto de Pecém, no Ceará. Se confirmado, o projeto poderá ser o primeiro a se beneficiar do programa.
Para o governo, o momento é estratégico. Além de dispor de uma matriz elétrica majoritariamente renovável, o Brasil tem vasto território para instalação de infraestruturas e busca consolidar sua posição de liderança em sustentabilidade. Em meio a disputas comerciais globais e à crescente demanda por processamento de dados, o país quer se vender como um destino confiável, competitivo e sustentável.
Se aprovado, o Redata não apenas ampliará a presença de data centers no Brasil, mas também poderá redefinir o papel do país na economia digital. Mais do que um incentivo econômico, a iniciativa se apresenta como um passaporte para o futuro, onde inovação tecnológica e responsabilidade ambiental caminham lado a lado.