
Entre abraços e ameaças: Trump surpreende ao elogiar Lula na ONU, mas endurece contra o Brasil com tarifaço histórico.
A cena foi digna de roteiro político: em meio à tensão diplomática, sanções inéditas e ataques cruzados, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, surpreendeu ao afirmar, na 80ª Assembleia Geral da ONU, que teve uma “química excelente” com Luiz Inácio Lula da Silva. A declaração, feita nesta terça-feira (23) em Nova York, dividiu opiniões e abriu um debate acalorado sobre os bastidores da relação Brasil-EUA.
Segundo Trump, o encontro com Lula nos corredores da ONU durou apenas 20 segundos, mas bastou para que os dois trocassem um abraço e combinassem uma reunião para a próxima semana. “Ele parecia um homem muito legal, na verdade, ele gostava de mim, eu gostava dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, disparou o republicano, arrancando reações de choque e ironia no plenário.
O tom quase afetuoso, porém, veio acompanhado de uma retórica dura. Poucos minutos depois, Trump atacou a economia brasileira, anunciou novas sobretaxas e deixou claro: sem os Estados Unidos, o Brasil “fracassará”. A contradição expôs o jogo duplo do americano: simpatia pessoal de um lado, ameaças comerciais do outro.
Trump foi direto: “Estamos revidando, e revidando com muita força. No passado, o Brasil impôs tarifas injustas à nossa nação. Por isso, aplicamos o tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros.” A fala provocou inquietação entre empresários e governadores brasileiros presentes na comitiva.
O governo Lula reagiu com pressa. Ainda em Nova York, a equipe econômica anunciou linhas emergenciais de crédito subsidiado para setores atingidos. No Brasil, o Ministério da Economia publicou portaria incluindo quase 10 mil produtos na lista de sobretaxados, e lançou oficialmente o Plano Brasil Soberano, com R$ 40 bilhões para conter os impactos do golpe americano.
O embate econômico, no entanto, não é isolado. O pano de fundo é político. Trump voltou a criticar o julgamento de Jair Bolsonaro, condenado a mais de 27 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado em 2022. “Caça às bruxas”, resumiu o americano, insinuando que a condenação teria sido uma das razões para retaliar o Brasil.
Já Lula, em seu discurso, transformou a ONU em palco de resistência. Sem citar Trump diretamente, mas mirando a Casa Branca, o brasileiro defendeu a soberania nacional e o Judiciário, duramente atingido pelas sanções americanas que incluíram familiares de ministros do STF. “A agressão contra a independência do Poder Judiciário é inaceitável. Não há pacificação com impunidade”, afirmou Lula.
O presidente brasileiro também aproveitou para mandar um recado global: “Diante dos olhos do mundo, o Brasil deu um recado a todos os candidatos a autocratas: nossa democracia e nossa soberania são inegociáveis.”
Entre elogios inesperados, ameaças de tarifaço e discursos inflamados, o episódio deixou claro que a relação entre Lula e Trump caminha sobre uma corda bamba: química pessoal de um lado, guerra política e comercial de outro.
Nos corredores da ONU, diplomatas brasileiros admitiam em off: a fala de Trump foi uma “espécie de armadilha”, um movimento para desconcertar Lula em plena vitrine internacional. Afinal, quem espera hostilidade pode se perder quando o inimigo oferece um abraço.
Agora, todos os olhares se voltam para o encontro marcado entre os dois presidentes na próxima semana. Será uma conversa de aproximação real ou apenas mais um capítulo da guerra de narrativas entre Brasília e Washington?