
A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do INSS volta suas atenções para a Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), entidade que movimentou impressionantes R$ 410 milhões entre maio de 2024 e maio de 2025.
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O presidente da CBPA, Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, foi convocado para depor, em um momento crucial das investigações que buscam desmantelar um complexo esquema de fraudes contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social.
Elo Chave em Esquema de Fraudes e Ligações Políticas
Embora a CBPA não figure entre os maiores beneficiários diretos de descontos associativos ilegais, a CPI avalia que a entidade possui elos cruciais com diversos núcleos do esquema investigado. A expectativa é que o depoimento de Abraão Lincoln Ferreira da Cruz possa abrir novos caminhos para a apuração, revelando a extensão da participação da confederação nas fraudes. Relatórios de inteligência financeira do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontaram uma série de movimentações suspeitas realizadas pela CBPA no período de 2024 a 2025.
Entre as transações que chamaram a atenção dos investigadores, destacam-se repasses de R$ 20,3 milhões para a Plataforma Consultoria, empresa associada ao Terra Bank, da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer). A suspeita é que essa fintech tenha sido utilizada como ferramenta para operacionalizar o esquema de fraudes no INSS, facilitando a movimentação de recursos ilícitos.
A CBPA também manteve negócios com empresas de Antônio Camilo Antune, conhecido como o “Careca do INSS”, figura central em diversas investigações de fraudes. Além disso, a confederação estabeleceu relações financeiras com políticos de estados como Rio Grande do Norte, Paraíba e Maranhão, o que levanta sérias questões sobre o uso de recursos e possíveis influências indevidas.
Suspeitas de Repasses Milionários a Deputado do Maranhão
Um dos pontos mais sensíveis da investigação recai sobre as supostas movimentações suspeitas entre a CBPA e o deputado estadual Edson Cunha de Araújo (PSB-MA). De acordo com um inquérito da Polícia Federal, o parlamentar teria recebido pelo menos R$ 4,5 milhões da entidade. A CPI do INSS, no entanto, acredita que o valor real do repasse possa ser o dobro desse montante, indicando uma possível operação financeira vultosa e não declarada.
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Edson Cunha de Araújo, que lidera a federação do Maranhão, está sob escrutínio, e a CPI busca esclarecer a natureza e a legalidade desses repasses. A suspeita de que uma entidade que atua em âmbito nacional possa estar financiando atividades políticas de forma irregular é um dos focos da comissão.
Atuação em Brasília e Indícios de Lavagem de Dinheiro
A influência da CBPA não se restringe às esferas regionais. A confederação possui forte atuação em Brasília, com assento no Conselho Nacional de Aquicultura e Pesca (Conape), do governo federal. O representante da entidade nesse conselho é o deputado estadual Juscelino Miguel dos Anjos (Republicanos-PB), o que reforça a teia de conexões entre a entidade e o meio político.
O relatório do Coaf também trouxe à tona indícios de lavagem de dinheiro na relação da CBPA com a Federação das Colônias de Pescadores e Aquicultores do Rio Grande do Norte (Fecopesca-RN). Essas conexões adicionais sugerem uma complexa rede de operações financeiras, cujas origens e destinos precisam ser rigorosamente apurados.
A própria CBPA emitiu um comunicado afirmando que “reitera seu total apoio às instituições de controle brasileiras, que buscam proteger os aposentados de práticas fraudulentas com as quais não compactua e as quais condena veementemente”. No entanto, a confederação já foi alvo da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal em abril, ocasião em que a entidade e seu presidente tiveram seus bens bloqueados.
Para a CPI do INSS, a confederação de pesca é considerada um dos “eixos da arquitetura criminosa desvelada pela Operação Sem Desconto”, com um impacto financeiro estimado em R$ 221,8 milhões subtraídos de forma contumaz e sistêmica dos benefícios de aposentados e pensionistas. A CPI segue com o objetivo de expor toda a extensão do esquema e responsabilizar os envolvidos.
Movimentação de R$ 410 Milhões em Conta Bancária
Um dos dados mais alarmantes revelados pelo relatório do Coaf diz respeito à movimentação de R$ 410 milhões na conta aberta em uma agência do Banco do Brasil em Ceilândia, periferia de Brasília, entre maio de 2024 e maio de 2025. Nesse período, foram registradas R$ 205,5 milhões em entradas e R$ 204,4 milhões em saídas, um volume financeiro que, segundo os investigadores, exige uma explicação detalhada e transparente.
Essa expressiva movimentação em uma conta bancária específica levanta sérias suspeitas sobre a origem e o destino dos recursos, bem como sobre a possibilidade de lavagem de dinheiro. A CPI do INSS busca agora conectar esses valores às demais transações suspeitas e aos beneficiários finais do esquema fraudulento, visando recuperar os valores desviados e garantir a justiça aos aposentados e pensionistas lesados.







